17 outubro, 2011

Contaminados com glúten


Cerca de 83% dos alimentos para celíacos em padarias estão contaminados com glúten


Um inofensivo pãozinho de queijo de padaria, que não leva glúten na sua composição, pode ser uma bomba-relógio para as pessoas que sofrem de doença celíaca, uma intolerância permanente a essa proteína presente no trigo, na cevada, no centeio e na aveia.
Estudo realizado nas quatro regiões da cidade de São Paulo e apresentado como tese de mestrado na Unifesp aponta que cerca de 83% dos 214 alimentos presumivelmente sem glúten comercializados nas panificadoras estavam contaminados com a proteína. E 63% deles com quantidades acima do limite proposto por órgãos internacionais.

Entre os alimentos analisados pela nutricionista Daniela Resende de Moraes Salles, recolhidos em 63 estabelecimentos comerciais, estão pães de queijo, alimentos preparados com farinha de milho e mandioca (biscoitos, pães, bolos, broas e sequilhos) e os sem farinha (beijinhos, brigadeiros, cocadas, doces de nozes, marias-moles, mousses, pudins, queijadi­nhas, quindins, suspiros e tortas de queijo).

De acordo com a pesquisadora, o consumo de glúten por celíacos acarreta efeitos colaterais que variam de pessoa para pessoa, podendo, inclusive, se apresentar na forma assintomática. “O quadro clínico mais comum é diarréia crônica, inchaço abdominal e perda de peso”, explica Daniela. “Vômitos, atraso no crescimento, apatia, irritabilidade e anemia também são verificados e, em longo prazo, a pessoa pode desenvolver oste­oporose e câncer de intestino”.
Entretanto, Vera Lucia Sdepanian, chefe do Ambulatório de Gastroenterologia Pediátrica e orientadora do estudo, esclarece que as padarias não podem ser consideradas vilãs. “Os estabelecimentos comerciais analisados não fabricam estes produtos com glúten propositalmente”, explica a gastroenterologista. “A contaminação pode ocorrer nas diferentes etapas da fabricação dos alimentos, desde a colheita da matéria-prima e moagem até o transporte, armazenamento e empacotamento do produto final”.

A proposta do estudo, segundo Daniela, é mostrar a importância de o portador de doença celíaca aprender a fabricar esses alimentos em casa ou, então, de as padarias se conscientizarem do problema que atinge essa população específica. “Como a farinha de trigo é um dos principais ingredientes da maioria dos alimentos preparados em padarias e, conseqüentemente, sua presença é permanente no ambiente, uma das opções seria a criação de um espaço próprio para fabricação, armazenamento e comercialização de produtos sem glúten”, afirma.
 
Crescimento até 3,5 vezes menor

 Transgredir a dieta recomendada aos portadores de doença celíaca na infância e na adolescência afeta, e muito, o crescimento. A revisão dos prontuários de 60 pacientes com idades entre 9 meses e 15 anos, em acompanhamento no ambulatório, também mostrou que os que transgrediram a dieta livre de glúten cresceram, em média, 3,5 vezes menos (0,62 cm/ano) do que aqueles que a seguiram corretamente (2,12 cm/ano).

O ganho de peso também é bastante prejudica­do. Em média, as crianças e adolescentes que não fi­zeram a dieta ganharam 2,4 vezes menos peso (1,23 Kg/ano) quando comparados àqueles que deixaram de ingerir a proteína (2,95 Kg/ano).
De acordo com Denise Uesugui Santana, pediatra que fez seu mestrado sobre o tema na disciplina de Gastroenterologia Pediátrica da Unifesp, 45% dos pacientes analisados transgrediram a dieta. Cerca de 38% deles apresentavam déficit de estatura para a idade e, 52%, de peso no início do trata­mento. “Entretanto, o peso e a estatura podem ser recuperados se o problema for detectado e tratado antes da puberdade”, informa a pesquisadora.
 
Diagnóstico subestimado

Por se apresentar também na forma assintomática, muitas pessoas podem ter a doença celíaca e nem saber. Um estudo apresentado na Unifesp como dissertação de mestrado pelo biomédico Ricardo Palmero aponta que um a cada 214 candidatos a doadores de sangue pode ser portador da doença.
O pesquisador avaliou a presença do anticorpo antitransglutaminase no sangue de 3 mil candida­tos a doadores de sangue, inclusive naqueles que seriam excluídos da doação por apresentarem anemia, um dos sinais clínicos do problema. O anticorpo foi positivo para 1,5% (45) da população estudada; e 66,7% dos 21 candidatos que aceitaram realizar a biópsia tiveram confirmado o diagnóstico.

Fonte – Jornal UNIFESP
Informativo do complexo Unifesp/SPDM - número 15 - junho de 2007


Eu li esse texto no site da Acelbra MS:  http://www.acelbrams.org.br/v2/news/3137.html

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